terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A TRANSFORMAÇÃO


Às vezes, em minhas buscas me assusto ! Busco em mim aquela menina moça cheia de sonhos...
cheia de ilusões típicas da idade! Hoje, mais amadurecida, me olho no espelho e vejo a transformação que os anos causaram. Mas, o que me assusta não é o reflexo daquela menina-moça num rosto maduro, com pequenas rugas informando o sinal dos tempos! Não. O que me assusta é que dentro de mim, lá bem escondidinho, ainda é muito marcante a presença daquela jovem princesa sonhadora, que morava na torre de marfim guardiã de seus sonhos, à espera do famoso príncipe encantado. Os anos passaram e nem todos os sonhos se tornaram realidade; o sonho de ser mãe, de ter filhos lindos, sadios, de construir um futuro sólido, baseado em alicerces profundos, realizou-se, mas, e os outros sonhos? Onde foram parar os projetos anelados ao longo desses anos? O sonho de ser uma advogada criminalista de sucesso, da qual os meus pais tanto se orgulhariam...talvez também os filhos e os amigos verdadeiros. Por que não foram levados adiante com a capacidade e a inteligência que meu pai sempre dizia que eu tinha? Ah! Talvez, naquela época, foram criadas outras alternativas, e os sonhos, os projetos, passaram para um segundo plano. Hoje, lendo o livro da minha vida, vejo que as coisas realmente tomaram outro rumo, porque eu tinha que trabalhar e ajudar no sustento familiar já que pretendia criar os meus filhos da mesma maneira que meus pais me criaram. Hoje, mais amadurecida, vejo que não lutei pelas coisas que eu tanto queria; percebo que eu não vivi a vida que eu queria, mas sou consciente de que fui eu que desisti de concretizar os meus projetos. Não posso culpar ninguém pelos meus insucessos e pela falta de coragem para lutar pelo que eu tanto almejava. É possível que eu me sentisse castrada, porque sempre que eu exprimia a vontade de fazer uma faculdade, ouvia a mesma resposta: com que tempo? E os filhos, a casa, a alimentação, o escritório? Coisas que se eu tivesse a maturidade de hoje, simplesmente teria respondido: dá-se um jeito para tudo. E eu teria sido a mesma mãe, a mesma mulher que fui? Sinceramente? Penso que não. Eu poderia ter sido a mulher que realmente eu queria ser, tudo seria diferente e eu teria deixado aos meus filhos e netos uma história para contar, quando eu já tivesse partido para uma nova vida no plano espiritual. Entretanto, eu não tive forças suficientes e, ao encontrar a primeira barreira, caminhei para trás, tive medo; talvez, eu não fosse bastante inteligente como papai me dizia, ou simplesmente me acostumei a obedecer ao que as pessoas achavam ser melhor para mim. E, nessa muda obediência, eu me revoltava e vivia uma vida falsa, percorrendo caminhos que não deveriam ser percorridos, trilhando estradas desertas, sem água, convivendo só com a solidão, me sentindo fracassada, derrotada. Hoje, olho para trás e não vejo mais os muros, os obstáculos que não podem ser removidos com a minha vontade, com a minha determinação, com meu querer. Será tarde demais para recomeçar? Hum! Essa frase feita até parece o título de um filme; quem sabe um filme em preto e branco como foram todos esses anos da minha vida, porque eu permiti, porque eu fui covarde, e a única arma que os covardes usam e dominam é a maledicência... partem para a defesa porque se atacarem, sabem perfeitamente que nunca vencerão, uma vez que sua forma de lutar e suas armas são retrógradas, de puro ferro velho, enferrujadas pelos anos em que ficaram abandonadas. Por que digo que me assusto quando vejo o meu passado refletido no espelho, me perseguindo pela casa, pela rua, pelas praças e até no semblante das pessoas que encontro ocasionalmente? Porque, como disseram os sábios, "o espelho é o reflexo da alma". Desse reflexo é que eu tenho medo. Cresci, amadureci, busquei novos caminhos, percorri quilômetros de alamedas escuras, desertas, e ao sentar-me para descansar dos pesados fardos sobre as minhas costas, eu comecei a vislumbrar no meu espelho interior uma nova vida, e a acreditar que eu sou capaz e posso mudá-la. Então, ao continuar meu percurso, continuei sozinha, sem peso nenhum, porque aquela bagagem inútil que carreguei a vida inteira , eu deixei para trás, junto com o passado, porque nessa nova alameda circundada de flores silvestres, que perfumam e me inebriam a alma, eu encontrei um novo marco, e nesse marco estava escrito, com letras simples e bem coloridas: "Aqui começa a estrada para uma nova vida, a sua vida. Saiba percorrê-la, e no final encontrará a realização do que você foi impedida de fazer por ter sido fraca e medrosa. Aqui nessa alameda passam somente os corajosos, os lutadores, pessoas comuns que batalham pelo seu objetivo de vida e se consagram vitoriosos. Venha, você também, amigo, amiga, dê-me a mão e vamos caminhar juntos para recebermos a bandeira quadriculada da vida que percorremos, para sairmos triunfantes e orgulhosos de nós mesmos, com grande quietude e acalentadora paz que o nosso espírito está alcançando nessa nova estrada!" Não importa que eu não tenha sido a primeira a chegar ao podium dos meus sonhos realizados, o que me importa é alcançar, agora, o primeiro lugar no podium da minha vida! ARNEYDE T. MARCHESCHI
VITÓRIA E.SANTO

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